Tema 1 - Educação Digital e Ecossistemas de Aprendizagem em Rede

 Sociedade da informação em rede

         A sociedade de informação em rede é a sociedade atual, em constante mutação, construção e atualização que utiliza mecanismos e ferramentas de comunicação que acentua a linguagem visual acompanhada de novas terminologias linguísticas (autoestradas da Informação; Televisão Digital; Redes de informação digital; Telefone global; Videoconferência; Telemedicina; Ciberespaço; Teletrabalho; Teleconsulta; Hiperdocumentos; Hipertextos, Universidade Virtual; Consulta on-line; Comunidades virtuais).

É uma sociedade que se identifica com e num contexto social, espacial e temporal mais alargado, no qual a informação é a matéria-prima que circula de forma rápida e intensa em toda a “aldeia global”. É uma sociedade onde a informação é instantânea, pois esta é proporcionada pelos diversos meios de comunicação que aceleram a produção de mais e mais informação. Esta intensa produção de informação obriga a uma atualização dos conhecimentos nos novos meios e suportes tecnológicos de informação.

Tendencionalmente, este novo e específico contexto social sobrepõe-se às experiências reais e diárias. As novas tecnologias imiscuem-se nos diferentes contextos (socias, pessoais, privados, profissionais, políticos, religiosos) de uma sociedade produzindo alterações nas formas de pensar e de agir. Os produtores e os consumidores de informação digital cada vez mais se complementam.  É uma sociedade emergente.

Partindo do pressuposto de que a sociedade de informação e conhecimento é mutável, então a educação também o deverá ser. A educação não é estanque e o conhecimento não é privilégio de um grupo ou indivíduos.

Que educação se quer para esta "nova" sociedade de informação e comunicação?

Como educar nesta sociedade de informação e conhecimento?


Castells, M. (2006). A sociedade em rede: do conhecimento à política. In M. Castells & G. Cardoso (Coord.), A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política.  Debates: Conferência promovida pelo Presidente da República (pp. 16-29). Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.


Educação Digital

“Uma educação que prepare as pessoas para a sociedade da informação tem de ser constituída em torno da aprendizagem e não do ato de ensinar” (Meirinhos, 2000, p.7).

A escola atual tem de adaptar-se pois tem “(…) um papel fundamental em todo o processo de formação de cidadãos aptos para a sociedade da informação (…)” (Missão para a Sociedade da Informação (MSI), 1997, p.43).

“A educação deve ser centrada no agente que aprende” (Meirinhos, 2000, p.7).

Neste sistema de educação digital, o aluno deve ser parte integrante e ativa do processo. Considero que a escola atual deve e tem a obrigação de renovar o registo comunicativo com o seu público – os alunos, os funcionários, os docentes e toda a comunidade envolvente. Uma reorientação que implica desafios à escola, enquanto instituição detentora do conhecimento e do saber e, consequentemente alguns constrangimentos e inseguranças ao tradicional papel do professor.

Neste momento, num mundo onde a comunicação não se realiza somente através da linguagem escrita e oral, mas também da visual, audiovisual, multimédia, e outras, utilizando novos meios e novos suportes, o conceito de alfabetização muda. Um indivíduo que não domine minimamente as novas tecnologias e as novas linguagens fica impedido de aceder a grande parte da informação veiculada na nossa sociedade. Como consequência, terá mais dificuldades no acesso e promoção no mercado do trabalho e estarão mais indefesos e vulneráveis perante a manipulação informativa.

As novas características e necessidades da era atual reclamam uma nova educação. Uma educação mediada pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) que fomenta a interação, o desenvolvimento e a partilha do conhecimento.

“A utilização de tecnologias digitais no espaço educativo pode ser feita em todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem, desde o momento do planejamento, perpassando pela execução dos seus objetivos à conclusão das atividades propostas.” (Porto & Moreira, 2017, p.118). São as tecnologias, especificamente as móveis que possibilitarão a flexibilidade e a democratização da aprendizagem em qualquer lugar e espaço. A educação digital ocorre em diferentes cenários educativos desde as salas de aulas tradicionais até aos Modelos Pedagógicos Virtuais que se desenvolvem totalmente online.

A educação, neste momento, encontra-se numa confluência de vias e de caminhos nem sempre visíveis. Saberes múltiplos e dispersos, plataformas múltiplas de construção de conhecimento, ambientes de aprendizagem diferenciados que circulam e prosperam. Neste contexto é pertinente a analogia entre as comunidades ecológicas e as comunidades digitais, concluindo-se que os princípios norteadores são similares: a cooperação, a partilha, a interação entre os intervenientes com vista à colaboração que fomentará a construção da aprendizagem, seja ela em contexto formal ou informal.

Caminhamos para uma educação mais blended, mais híbrida, mais total, envolvendo diferentes modalidades, abordagens diversas e recursos tecnológicos em tempos e espaços diferenciados.

Acrescento e sublinho que independentemente de qualquer caminho a seguir em direção à mudança, torna-se, a meu ver, imprescindível, que a educação de qualquer indivíduo para a sociedade atual não pode considerar-se como tal se não incluir, desde os níveis mais baixos de escolaridade, uma preparação para conviver com as novas tecnologias. Se isto não for feito na escolaridade básica (obrigatória gratuita e para todos), cada vez se acentuará mais o fosso entre os que tem acesso à informação e os infoexcluídos.

 

Meirinhos. M. (2000).  A Escola perante os Desafios da Sociedade da Informação. Encontro As Novas Tecnologias e a Educação. Bragança: Instituto Politécnico de Bragança.

Missão Para a Sociedade da Informação (1997).  Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal.  Lisboa: Missão Nacional Para a Sociedade da Informação. Disponível em: https://purl.pt/239/2/

Porto, Cristiane & Moreira, J. A. (Orgs.) (2017). Educação no Ciberespaço. Novas configurações, convergências e conexões. Pp. 13 -20. Sergipe: EDUNIT.


Ecossistemas Digitais de Aprendizagem

Um Ecossistema de Educação Digital se definirá por um espaço ou espaços de aprendizagem em rede, conectada pelas tecnologias digitais caracterizadora da sociedade em rede, defendida e valorizada por Castells. Sendo assim, na sociedade em rede, os indivíduos aprendentes interagem através de suportes e conexões multidirecionais, “que faz com que a comunicação já não se extinga no “um-para-um” nem no “um-para-muitos”, pois tornou-se ubíqua e omnipresente (Lagoa, 2016, p. 11).

Neste ecossistema digital, a aprendizagem em rede implicará que os seus “habitantes” tenham ou adquirem, gradualmente, capacidades e conhecimentos de literacia digital. Impera aqui a importância das tecnologias, do seu usos e reuso de forma natural, quotidiana e, penso eu, com regularidade. Obviamente, que este processo e aquisição não deve ser linear pois são vários os condicionalismos e os requisitos. Importa realçar, que estes “habitantes” procuram construir o conhecimento, a aprendizagem que se proporcionará de forma colaborativa e cooperativa, daí a importância da sociabilidade, das relações entre e dentro de comunidades (fatores bióticos e abióticos explorados e analisados em reflexões anteriores). As interações são fundamentais e são apoiadas pelas tecnologias digitais.

Então, será necessário dotar os “habitantes” das diferentes áreas curriculares de ferramentas digitais, promover a integração digital de forma quotidiana e regular na pedagogia de ensino, fomentar a relação digital, a conexão com a pedagogia, com o ensino, com o currículo e não a sobreposição de uma sobre a outra, mas construção de “ambientes férteis, dinâmicos, vivos e diversificados onde o conhecimento, as ideias e o espirito empreendedor possam nascer, crescer e evoluir (Moreira, J. A., Henriques, S., Barros, D., Goulão, F., & Caeiro, D. (2020. p,8)”.

Neste sentido, importa pensar num ambiente híbrido e multimodal. E, para isso, nós, os “habitantes” temos de nos preparar!? Temos de compreender e aceitar a existências de dois mundos conectados com diferentes formas de comunicação. 

Diferentes mundos sem limites nem fronteiras se considerarmos o mesmo propósito, o da construção do conhecimento.

Neste “mundo conectado” há que promover a relação e o diálogo entre as tecnologias digitais com as analógicas de modo a atenuar as diferenças existentes.

Importa perceber como combinar, como articular as duas realidades em prol de uma só realidade emergente híbrida e hiperconectada. Pela apropriação de mecanismos de promoção de novas competências digitais, isto é, capacitar os intervenientes, falta muito, mas não tudo! Como previsto no Plano para a Transição Digital pretende-se desenvolver as competências digitais, em contexto pedagógicos e didático, dos docentes. E as competências digitais dos aprendentes? Sendo “rotulados” como geração @, são capazes de tal? Há que familiarizar, naturalizar as tecnologias na educação e nas práticas diárias, tal como acontece com a utilização da caneta e do caderno de apontamentos.

 “Não deve haver mais dúvida de que aprender sobre o saber tecnológico tornou-se uma condição sine qua non para a tarefa docente actualmente” (Singo. 2014, p. 7).

“É este mix, este híbrido, de uma sociedade presencial e digital que nos conduz ao conceito de blended.” (Moreira, J. A., Schlemmer, E. 2019, p.699)

 

Lagoa, Mário Sérgio Azenha. (2016). Autenticidade na rede: estudo da identidade digital. Universidade Aberta: mestrado em Pedagogia do e-learning. Tese de mestrado, orientada pelo professor doutor António Teixeira. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/5574/1/TMPEL_AntonioLagoa.pdf

Moreira, J. A., Schlemmer, E. (2019). Modalidade da Pós-Graduação Stricto Sensu em discussão: dos modelos de EaD aos ecossistemas de inovação num contexto híbrido e multimodal. Educação Unisinos. (pp.689-708). Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/edu.2019.234.06

Moreira, J. A., Henriques, S., Barros, D., Goulão, F., & Caeiro, D. (2020). Educação Digital em Rede: Princípios para o Design Pedagógico em Tempos de Pandemia. Coleção Educação a Distância e eLearning. Lisboa: Edições Universidade Aberta. https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/9988

Singo, Félix. (2014). TIC tratadas como tema transversal no currículo de formação de professores. Conferência sobre Temas Transversais na UP. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/281865198_TIC_tratadas_como_tema_transversal_no_curriculo_de_formacao_de_professores


Ambientes híbridos de aprendizagem

Os ambientes híbridos de aprendizagem, também designado por blended learning são um modelo flexível que combina ambientes físicos e virtuais de aprendizagem no desenvolvimento de projetos ou de outras atividades de ensino e aprendizagem, sem haver necessidade de professores e alunos partilharem o mesmo espaço físico e os mesmos tempos de aprendizagem.

Trata-se de um modelo que exige uma cuidadosa planificação pedagógica sobre como e quando usar os diferentes ambientes, físicos e digitais, para atividades presenciais ou a distância, trabalho autónomo ou colaborativo, interação social e aplicação prática, tendo em vista proporcionar aos alunos contextos de aprendizagem mais ricos, diversificados e adaptados aos ritmos e características de cada aprendente.

Os ambientes híbridos compreendem:

- uma componente humana (professores, alunos);

- conteúdos pedagógicos (recursos tradicionais e digitais);

- um ambiente físico (sala de aula);

- um ambiente digital (as plataformas tecnológicas);

- e as interações entre eles.

A aprendizagem híbrida assenta na ideia de que os alunos deixam de ser recetores passivos de conhecimento e de que o professor já não é a única fonte de informação. Também desenvolve a aprendizagem autónoma e autorregulada, potencia ao longo da vida e disponibiliza instrumentos que facilitam a personalização e a diferenciação. E, usar ambientes e recursos online é um meio de desenvolver as competências digitais dos alunos e dos professores.

 

Moreira, A. & Horta, M. (2020). Educação e Ambientes Híbridos de Aprendizagem. Um Processo de Inovação Sustentada. Revista UFG

 


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