ESR - Atividade 4 - Virtualização das relações sociais
A VIRTUALIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS
O ser humano sempre viveu em comunidade. Enquanto ser social esteve e está integrado em
grupos mais ou menos restritos: familiar, escolar, na comunidade que habita, no
ambiente de trabalho, entre outros. A necessidade de se relacionar e contactar
com os diferentes grupos tem deixado de ser algo limitado, a distância física deixou
de ser uma barreira. Se pensarmos, na conjetura atual, a pandemia de COVID19, constatamos
que o distanciamento físico passou a ser recomendado e obrigatório, mas o distanciamento
social não se quebrou.
Nas primeiras aulas presencias da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento
com as turmas do 9.º ano, a reflexão foi em
torno destas duas expressões: distanciamento físico versus distanciamento social.
Conclui-se que, ainda, não se tinha parado para refletir nestes conceitos e que
o primeiro não implicava o fim do outro. Verificou-se, também nas turmas, que novos
elementos do seio familiar dos alunos passaram a aderir às novas tecnologias, nomeadamente
os mais velhos que se mostraram disponíveis para aprender.
Assim, confirma-se que a comunicação é imprescindível na vida
humana. Os meios de comunicação, e, obviamente, a Internet veio facilitar, fomentar
e democratizar a informação e comunicação desenvolvendo e valorizando as capacidades
individuais. Pela primeira vez na história, as competências digitais adquiridas
no início de um percurso profissional estarão obsoletas no fim da carreia. (Levy,
2000).
Esta sociedade em comunicação sempre existiu. As tecnologias
da informação e da comunicação (TIC) trouxeram outro dinamismo à expressão “Sociedade
em Sede”, uma agregação de indivíduos que convivem, interagem e colaboram, num
determinado espaço e tempo, partilhando ideias, interesses e objetivos comuns (Castells,
2000).
Deste advento das TIC temos a cibercultura e o ciberespaço como
estimuladores das funções cognitivas humanas: memória, a imaginação, aperceção
e o raciocínio, construindo e alimentando a inteligência coletiva num novo
espaço social.
A imaginação, segundo Baudrillard (1991) conduz à dimensão virtual,
a hiper-realidade. Assim, as relações e comunicações virtuais não são reais? Ou
são uma só? Parece que o mundo real e virtual são um só.
Complementam-se? Ou são
antagónicos?
O ser humano, de hoje, social
e tecnológico define os próprios espaços. A linha que os separa é que pode ser
ténue. Tal como os vocábulos autenticidade e transparência. O que os define e o
que os separa.
As relações sociais e virtuais de convívio e de partilha são
criadas pelos próprios. Se um utilizador da realidade virtual, no seu espaço físico
é extrovertido e gosta de interagir com os demais, conclui-se que também o será
nas redes virtuais, independentemente de usar um perfil com um nickname.
A relação estabelecida é verdadeira, contudo poderá não ser autêntica pois
existe um fosso entre o eu e o outro, ao se identificar com um nick, se
torna inautêntico. “Toda a atividade gerada na Internet
constitui parte da nossa identidade, e nisto deveremos incluir os perfis falsos,
nicknames ou outros-eu que queremos mostrar” (Lagoa, 2016, p. 57).
A relação do conceito autenticidade às fake news
tem sido sistemática. As
informações falsas veiculadas em rede e em plataformas públicas ou privadas
podem ser criadas por um particular ou uma empresa com o objetivo de denegrir a
imagem de alguém ou legitimar uma ideia ou acontecimento que não é encontra legal
ou científico. O propósito de uma fake news é ser divulgada o máximo
possível para que, em decorrência da repetição, àquela informação passe a ser
considerada verdade ou verdadeira. Deste modo surge o termo a pós-verdade. Foi
criado nas redes sociais depois de se verificar que as notícias falsas eram
vistas como verdades devido ao seu grande número de partilhas. “Uma mentira
repetida mil vezes torna-se verdade” foi dita por Paul Joseph Goebbels,
ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha Nazista. Significa que se
torna mais importante, que se acredite no que não é verdade, no que realmente é
verdade.
Qualquer utilizador pode criar e partilhar informações na rede, o que requer
ser transparente e autêntico implicando uma responsabilidade social e cívica
que se refletirá na utilização das redes sociais.
Vivemos numa virtualização das relações
sociais, nas quais a linha que separa o físico do virtual é quase inexistente, em
que o privado se mistura com o público. As redes sociais são mecanismos pelos
quais os utilizadores adquirem projeção mundial, se assim o entenderem. É o exemplo
do fenómeno de popularidade dos Chinese Boys que explodiu e se amplificou massivamente.
A internet lança desafios à escala
global para a sociedade em geral e para a educação em particular. No ensino online,
nas suas várias dimensões, e-learning, b-learning, m-learning
ou enquanto extensão virtual, a questão da identidade digital também se coloca,
tal como a da autenticidade e transparência, nomeadamente na questão da avaliação.
A construção da identidade digital tem
repercussões na dimensão da cidadania que deixa de ser local e passa a ser
global. Especificamente, na cidadania digital as questões da privacidade dos
dados e a segurança na Internet têm de ser ponderadas.
"Uma
comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de
conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca,
tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações
institucionais" (Lévy, 1999, pág. 127).
Referências bibliográficas:
Baudrillard,
J. (1991) Simulacros e Simulações. 1.ª edição. Tradução Maria João da Costa
Pereira. Lisboa: Relógio d´Água.
Lagoa,
Mário Sérgio Azenha (2016). Autenticidade na rede: estudo da identidade digita.
Universidade Aberta.
Lévy,
P. (1999). Cibercultura. Lisboa: Piaget. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Edições 34. Disponível em https://mundonativodigital.files.wordpress.com/2016/03/cibercultura-pierre-levy.pdf
Nascimento, Maria. Alisigwe, Sunday & Magano, José (2019). A Virtualização das Redes Sociais Segundo o Pensamento de Manuel Castells e Pierre Levy. Disponível em (PDF) A Virtualização das Redes Sociais Segundo o Pensamento de Manuel Castells e Pierre Levy (researchgate.net)
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